terça-feira, 4 de dezembro de 2007

insolaridade

Passeia-se mentalmente por tempos vividos e muito felizes. Rosa adorava aventuras, daquelas que o são mesmo. Das que doem e fazem sorrir, daquelas que nem sempre se gosta. Ergue-se ao som de aves cantantes, dorme ao som de cagarros gritando. O sol beija-lhe a face ao acordar, aquece-a de amor p'ra levantar. Um enxaguamento de pele, um beijo ainda cremoso e ... cozinha. Afinal ele sai mais tarde. Ouve-se o desligar da torradeira e o barulho da máquina puxando água p'ró café. E Rosa desce a escada correndo, sempre com o tempo contado e espremido, num lamento que é rotina, numa pressa que é viver. Passa pela padaria, encomenda o pão e o leite, uma vez que o almoço já ficou, de ontem, preparado. Chega ao local de trabalho ufegante. Repara se a patroa está já levantada para lhe dar os bons dias e, entretanto veste a bata e zás, fogão. Precisa de fazer sopa, precisa de ver do pequeno almoço da Srª, precisa de começar um dia mais. Há roupa para passar, há animais para tratar, há compras de praça, concerteza, para fazer, mas o mais importante é o amor e a estima que a patroa espera dela, por não ter ninguém.
- Ó Rosa! Estenda-me lá estas toalhas se faz favor!
- Concerteza minha Srª e olhe, vá-se sentando à mesa, tem leite e torradas quentinhas. Dormiu bem?
- Assim assim, lá fui dormindo.
E lá vão vivendo... Uma auxiliada por bem, outra continuando a pensar na grande necessidade de a auxiliar, pois precisa de trabalhar. À chuva, lá segue fazendo as compras que servirão de almoço e jantar às duas. Recebeu a lista e, apesar de tudo, a Srª não se esqueceu de incluir um cafézinho no bar do Sr. João. Sempre descansa um pouco as pernas, sempre cumprimenta alguém. Nesse bom dia, cumprimenta aves e hortenses, chuva e sol e fica feliz ouvindo o seu retorno de beleza e sons. O mar está agitado, a brisa fresca e constante acaricia-lhe o rosto.
Depois das compras, que não pesam tanto, Rosa caminha rumo a casa e ausculta da presença ou ausência da Srª para lhe dar contas.
- Não te apresses, fazemos isso mais tarde.
- Não minha Srª há-de ser agora com a memória fresca. E sabe, não estava na lista mas comprei umas batatas doces. Há-de gostar!
E foi nessa hora que, contando os trocos, a Rosa participou a outrem das despesas feitas, das poucas coscovilhices que ouviu e até da novidade de uma sua prima doente.
- Havemos de ir vê-la, tem forças para ir comigo?
- Com certeza Rosa, qualquer dia.
E o qualquer dia, era sempre, todos os dias, enquanto a pensão fosse dando para conservar a casa e a Rosa.

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1 Comentários:

Blogger alcinda leal disse...

olá biabisa! As festividades afastaram-na muito!Como está? Boas festas e até para a semana!

29 de dezembro de 2007 às 18:09  

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