sábado, 30 de agosto de 2008

Marão




POR TERRAS DE MIGUEL TORGA
De Alijó a S. Martinho de Anta. Estradas estreitas, muito movimento de emigrantes, muito dinheiro a ser movimentado, muitas vivendas novas, algumas com traças pireneenses e uma grande feira. Reinam os enchidos e as carnes fumadas e sêcas. Há gente a levar às costas 2 presuntos, além de grandes sacadas de enchidos e queijos. O cheiro é agradabilíssimo, apetece-me
uma boa sandwich de qualquer coisa destas. Mas resisto. O movimento é grande e tenho que sair de lá. Pelo caminho a casa onde nasceu e viveu o poeta e escritor. De cara lavada mas pouco cuidada, é hoje pertença de sua única filha que, raramente lá vai após a morte do pai.
Miguel Torga ou Adolfo Correia da Rocha nasceu numa família muito humilde e, porque era preciso na agricultura para ajuda paterna, apenas fez a instrução primária. Um tio que vivia no Brasil, numa das suas vindas a Portugal e vendo que o rapaz não tinha futuro ali, levou-o consigo e a ele se afeiçoou de grande. Lá permaneceu alguns anos mas pensou regressar a Portugal. A expensas do tio, instalou-se num pequeno quarto alugado em Coimbra onde fez o antigo 2º ano dos Liceus. No ano seguinte e mudando para um quarto melhorzinho, conseguiu tirar os antigos 3º, 4º e 5º anos dos Liceus. Assim e tirando os antigos 6º e 7º anos dos Liceus entrou na Faculdade de Medicina. Mudou-se então para uma República entrando em Tertúlias e frequentando a vida literária da época. Especializado em Otorringolaringologia, montou o seu consultório em frente ao basófias Mondego e aí trabalhou até se reformar. Com uma vasta obra, Miguel Torga é digno de bem se conhecer.
Em S. Martinho de Anta existe ainda muita gente que o conheceu e conversou com ele.
É uma aldeia pequenina, onde existe, por todo o lado, a sua poesia. Na aldeia, apenas se nota tristeza pelas ideias políticas que ele abraçou.
Já conhecia, mas gostei de lá voltar.
Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas
E que nele posso navegar sem rumo
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
o nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz, seria
Matar a sede com água salgada.
Miguel Torga

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