sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Enamorada observo



à esq. - um pouco de S. Jorge com o ilhéu do Topo.
à dta uma Caldeira em S. Miguel
Vim decifrar o diálogo terra/mar visivelmente perceptível. Entre suposições de vária ordem, o mar, que contínuamente beija e abraça a ilha, tem, por vezes, para com ela expressões de ironia, de sarcasmo e quantas vezes é violência. Mas não se divorciam porque perdoam; porque a terra o compreende de tal maneira que não consegue dele dissociar-se. Aqui, de longe a longe é a terra que se mostra um pouco ríspida e, zangada, também se agita. Nessa altura, o mar acalma-a com a ternura que só dois seres amantes conhecem. E tudo volta ao normal. O casamento mar/terra é abençoado; não tem divórcio. Não é incomodado com a poluição humana e, como a terra, são límpidos de afecto. Vivem abraçados ternamente e, às vezes, o amor é tal, que juntos vão morrendo. As rochas, testemunhas perfeitas desta união, vivem felizes presenciando tão agradável vivência. Às vezes imagino-as gargalhando pelas brincadeiras travessas destes afilhados. Quando entram nos jogos, deixam-se fustigar pelo divino e acham graça quando perdem.
O feltro da sua mesa é uma manta de retalhos multicolor, tecida pela terra com a ajuda do mar. Nem a melhor ou a mais perfeita tecedeira seria capaz de tal fazer.
Se os jogos não são de mesa, então é ver-se o mais bonito relvado na planura infinita de um verde-mar. E a Terra entra pelo mar a dentro, impulsiva, qual fera perseguindo presa que o mar roubou. E o mar entra no interior da terra, cavando, no seu vaivém, a baía de beleza que acaricia a esposa, tímida de afecto. Durante anos esculpem-se e oferecem-se mutuamente para o humano bem estar.
Eu nem dou conta! mas amo o mar, como amo a terra, como amo os astros. E ao amá-los, eu sinto a pequenez dos humildes na humildade dos grandes.
In "CRÓNICAS DE UMA ILHA" 1997

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2 Comentários:

Blogger notyet disse...

SUPONHO, PELA MATIZ DO TEXTO, SEREM SUAS AS CRÓNICAS.
CONTINUE A PINTAR COM PALAVRAS E ASSIM SUPLANTA AS FOTOS. UM ABRAÇO

29 de fevereiro de 2008 às 16:49  
Blogger alcinda leal disse...

Destas maravilhosas ilhas, onde todos os anos volto, sou absolutamente enamorada!
Crónicas de uma Ilha é obra sua?
Eu sei que já publicou, mas não sei o quê...
Importa-se de nos informar?
Bjs

29 de fevereiro de 2008 às 19:07  

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