MERGULHADA
Tomo café mergulhada num verde fresco, calmante e adocicado como quero a bebida. De quando em vez, sorvo, venho ao de cima e respiro. Não borrifo como alguns cetáceos, mas refresco as narinas. O que sinto não é maresia, nem cloro, é um não sei quê de frescura que não decifro. Como estou mergulhada em verde fresco, sinto a pele macia como que hidratada por um belíssimo gel ou creme.
Por vezes este verde é de ilhas atlânticas; por vezes , pelo seu ondear, parece mar, mas o que ali é encarnado, além é pouco colorido ou muito branco. Que o branco é côr, mas clareia as outras desfazendo os seus tons primários. Reparo que nesta monotonia viva de verdes há, aqui e além, tufos de amores perfeitos a contrastar com os visitantes que, de "amor perfeito" já só são amizade e muito afecto mútuo.
Espalham-se gargalhadas e brincadeiras infantis por tudo quanto é sítio. São necessárias à vida nesta faixa etária. Por muito cansada, nem sempre as aprecio, mas sei que são vida e vida qualificada para que o mundo possa continuar a girar. Recheados de alguma crueldade, damos conta que nem sempre respeitam ou conhecem as amizades. São coisas que têm de crescer com eles, à medida que se desenvolvem também.
E, numa manhã de Inverno quase primaveril, como apetece sorver verde, (até porque o Sporting ganhou ao Porto), respirar sol, ouvir música e beber café numa chávena irradiante de negro dourado, mergulhada em verde fresco de esperança.