segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Outono


















Já de manguinha vestida, recebi o Outono como benção. A temperatura não está má, estragos já fez, mas não por aqui. E desci à varanda para que estes negros calhaus me dêem a sensação de protecção. Depois da morte dos meus ascendentes senti uma solidão acompanhada de desprotecção que ninguém calcula. Ainda, de quando em vez, eu sinto angústia pela falta deles e nem escondo lágrimas. Apesar de ser a ordem natural, o "deixarem de se ver" custa um pouco (muito). Matamos saudades com fotos e recordações e vamos andando. Mas não os temos.

Mudando de assunto. As folhas das árvores despedem-se até para o ano (Primavera), as vinhas estão a pedir aos céus que lhes retirem os seus preciosos frutos, pois querem descansar, ganhar forças para tornarem a frutificar. E há vinhas encarnadas e louras e há cachos que irão ser divinos. E há uma vida morena, tostada pelo sol em cada criatura. Serão saudades de mar? De sol não pode ser já que o sol ainda aquece bem e quando arrefecer um pouco, virá o Verão de S. Martinho e dos marmelos. Iremos depois a um magusto. Até sempre.

dissertação

Estou aqui. Metida numa pedra e ainda por cima a rir sem vontade. Esta contractura muscular deixa-me palerma, sem paciência para nada e muito menos para sorrir.
Na foto quase pareço uma rainha coroada de ouro. Mas só era rainha para os meus ascendentes, que já se foram. Agora não me importava nada de ser princesa, mas o tempo já me levou esse carisma e já nem sei que desejaria ser. Umas dúvidas surgem na minha cabeça pela incapacidade de mentalização das impossibilidades e maleitas que vão aparecendo. E vou continuando a pensar qual será, na vida, o meu futuro ! Com alguma qualidade de vida e como sempre gostei muito de viver, eu queria continuá-la. Sem qualquer qualidade de vida, viver não interessa. Até admito e entendo o suicídio na 3ª idade ! Noutras idades não, nem pouco mais ou menos, mas o que andará cá a fazer aquele(a) que já não tem projecto de vida?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

viagens































DESFOLHADA

Fui ver o Minho verdinho com todas as suas belezas. A calma do rio, as uvas já bem maduras, as suas feiras e romarias, os cantares tão típicos, a célebre broa de centeio com milho e os rojões bem feitinhos . Delícias que os humanos tanto apreciam. O espectáculo das serras do Suajo e da Peneda e a Corunha ali tão perto.
Em Viana do Castelo subimos ao Monte Santa Luzia. O espectáculo da paisagem, a cidade a nossos pés e ao longe a bela praia de Ofir do outro lado do Lima.

No rio, vive ancorado o grande navio hospital Gil Eanes. Entrámos e foi muito giro tudo quanto se encontrou. Como se sabe, hoje funciona como Museu, mas, em tempos, serviu de apoio aos pescadores portugueses da pesca do bacalhau. No seu interior além das máquinas que o movimentavam, viu-se o consultório médico, o aparelho de raio X, as camas dos doentes, a sala de jantar e pequenas salinhas de lazer e jogos, a padaria e a cozinha, a barbearia, balneários e até laboratório de análises clínicas.

E subimos, subimos mais para norte. Fomos para Valença onde jantámos e dormimos. Fiquei admiradíssima com a imensa quantidade de comércio de têxteis, bem como de população espanhola. Quase parecia que estávamos em casa dos vizinhos.

Depois de um serão de bailarico, a cama onde se desaguou.

Ao outro dia Melgaço, Monção e Valença. A visita a uma quinta onde pudemos observar vinha (com uvas) de alvarinho. Visita às caves, prova de diferentes vinhos com a marca alvarinho e almoço.

E começou o regresso.

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terça-feira, 16 de setembro de 2008

poesia

BOCAGE Nasceu, tal como eu, a 15 de Setembro. Fez ontem 243 anos. Aqui fica registada a minha homenagem.

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão n'altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo de níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incansador de mil deidades
( Digo de moças mil) num só momento
E somente no altar amando os frades;

Eis BOCAGE, em que luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Manuel Maria Barbosa du Bocage

Duas anedotas deste poeta
1.
Durante uma festa uma Srª descuidou-se e abriu-se largando fétido cheiro. Ao ver a Srª muito encarnada e aflita, veio em seu socorro gritando:
" Meus Sr.s! O peido que esta Srª deu, não era dela, era meu.
2. Diz a lenda que, um dia ao chegar a casa Bocage sentiu um barulho estranho no seu quintal. Chegando lá constatou que se tratava de um ladrão tentando levar os patos de sua criação e disse-lhe:
- " Oh bucéfalo anácromo! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos meus bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro de profanares o recôndito do meu habitáculo levando meus ovíparos à sorreifa e à socapa. Se fazeis isso por necessidade, transijo... mas se é para zombares da minha muito elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com a minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina NADA.
E o ladrão, confuso respondeu:
- "Doutor, afinal sempre levo ou deixo os patos?"

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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

poesia

Joguei contigo esta vida recheada
de ternura; entreguei-te dias contra
o teu respirar; dormi num mar de espuma
envolta numa aposta que ganhei. Tornei

a aventurar meu ser bem contra o teu
num jogo de disputa de sorte ou de azar.
... e arrisco com suor a escrita desta
folha, confio, acredito e perco

a aposta, porque me sinto desiludida.
Tento renascer numa Primavera qualquer
onde a folhagem nova e verde nos dá
esperança e força para recomeçarmos.

Joguei contigo esta vida recheada
não ganhei, não perdi mas sinto
na carne cada vez mais que a vida
se joga em promessas e desenganos.

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poesia

Agarro numa pesada enxada
e desbravo terra com suor de sangue,
minh'alma encaminha este arado
abrindo sulcos, tornando-me exangue.

... e faço sementeira de amor
em cada grão, adubando a terra
p'ra esperança surgir. E dobro
o corpo, força só anímica

que percebo no íntimo do ser.
Julgo-me arado, charrua ou
enxada que fecunda a terra
perfumando o seu pobre coração.

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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

visitas


Acabei de chegar do Hospital. Achei o meu amigo um pouco em baixo. Agradeceu-me a visita e recusou-me a revista que lhe levei. Precisa de muito descanso psicológico e não lhe recomendam a leitura. Procurei transmitir-lhe um pouco da minha alegria de hoje e vi-o sorrir. Fiquei feliz. E fiquei feliz em não o encontrar de cama. Estava na sala com outro amigo num aparente bate papo coloquial (passe a redundância). Depois dos cumprimentos da ordem, falámos da "escolinha sénior", das novas inscrições, das novas possíveis instalações e até do nosso psseio à Madeira.

Que não sabe se poderá ou não ir para a Informática, que nem sabe, sequer, se poderá continuar a viver na sua casa, etc., etc., etc.. É ainda um homem novo, mas não somos nada. Paciência!

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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

lagarta de fruta

Apetecia-me ser lagarta da fruta. Escondidinha no seu interior, alimentando-me da sua polpa, isolar-me num Mundo carnudo de riqueza e encontrar alguém que, carinhosamente, me colhesse da mãe e me colocasse num fôfo de palhinha à espera de adquiridor.
Não gostaria muito nem desejaria ser armazenada no frio, para não gelar ou morrer. Por favor, escolham-me! Não me deixem morrer.

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